Queda no superávit: municípios de médio porte buscam soluções para realizar investimentos após a pandemia
Dados da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) mostra que essas cidades tiveram 35% a menos de superávit na comparação entre o primeiro semestre de 2020 e o mesmo período do ano ado; especialistas apontam que parceria com a iniciativa privada pode ser alternativa interessante
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Com um superávit 35% menor na comparação com primeiro semestre de 2019, segundo dados da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), os municípios de médio porte — que têm entre 50 mil e 200 mil habitantes — avistam um cenário preocupante para a retomada de investimentos após a pandemia da Covid-19.
Para Gilberto Perre, secretário executivo da FNP, as cidades médias vão ter dificuldades para fechar o orçamento em equilíbrio, como determina a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), sobretudo pelo custo que o combate ao novo coronavírus impôs a esses municípios, já que muitos deles são polos de referência para cidades menores, explica. Por outro lado, pesou negativamente a queda na arrecadação de impostos.
“O aumento da despesa acumulada, especialmente com saúde, e a diminuição da receita, por outro, é o que indica esse desequilíbrio nas cidades de porte médio, onde a ajuda do governo federal não chegou como chegou para as cidades menos populosas”, avalia.
O representante da Frente afirma que as principais medidas de socorro da União aos municípios priorizaram as cidades de menor porte. De acordo com a FNP, os municípios com até 20 mil habitantes tiveram uma variação positiva de 55% no resultado primário, na comparação entre o primeiro semestre de 2020 com o mesmo período de 2019.
Isso significa que, mesmo em meio à pandemia, na média, essas cidades conseguiram ter um saldo positivo nas contas públicas superior ao ano ado, sem a Covid-19, o que não ocorreu entre os municípios de médio porte.
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Alternativas
Gilberto Perre lembra que este é um ano eleitoral, em que a Lei é ainda mais rígida com os gestores em relação às contas públicas. Com a ausência de folga orçamentária, os municípios de médio porte vão ter que buscar novas alternativas para viabilizar o investimento e o crescimento econômico em 2021, aponta.
“A agenda de investimento nos municípios, especialmente nos médios, precisará, necessariamente, lançar mão de estratégias um pouco mais audaciosas. Estou falando de parcerias com o setor privado, de PPS e concessões para serviços públicos. Essa, certamente, será uma estratégia que os prefeitos que serão eleitos em novembro deverão utilizar a partir de janeiro para retomar o ritmo de investimento nas cidades.”
Segundo Rodrigo Neves, consultor sócio do Instituto Aquila, as parcerias entre o poder público e a iniciativa privada podem contribuir para alimentar a atividade econômica e a retomada do investimento, hoje estrangulados pela baixa capacidade financeira dos municípios. “Atrair o investimento privado, seja com as parcerias público-privadas, ou criando condições para que haja investimentos privados, empreendedorismo, é muito interessante, porque aumenta a empregabilidade, tem impacto direto na sociedade e também na arrecadação do município”, analisa.
Levantamento do Instituto, realizado em maio, indica que a retomada de investimento tende a ser mais complicada nos municípios que ficam no Norte e no Nordeste do país. Antes da pandemia, 90% dos municípios em situação crítica do ponto de vista da saúde e das finanças estavam localizados nessas duas regiões.
Para Rodrigo, os municípios dessas regiões já começam “um o atrás” na retomada dos investimentos. “Já eram municípios mais endividados, com menor capacidade de investimento e autonomia fiscal, mais vulneráveis às consequências da pandemia”, diz.
Com cerca de 156 mil habitantes, o município de Teixeira de Freitas, na Bahia, está entre aqueles que estavam em situação crítica quando da divulgação do estudo Instituto Aquila. Segundo o secretário de Finanças local, Paulo Sérgio Brito, a saída para o investimento em meio à baixa arrecadação podem ser as parcerias com o setor privado. “Acredito que uma alternativa promissora esteja nas parcerias com a iniciativa privada em áreas de infraestrutura e serviços antes reservadas ao poder público. Isso pode trazer um dinamismo que acelere a retomada econômica e o ritmo de recuperação de antes da pandemia”.
Contexto
Em junho, o presidente Jair Bolsonaro sancionou uma Lei Complementar que garantiu o ree de R$ 60 bilhões da União para os estados e municípios, como forma de tentar minimizar os impactos econômicos da pandemia. Do total, R$ 23 bilhões foram destinados às istrações das cidades. No entanto, entidades representativas, como a CNM (Confederação Nacional de Municípios) alegam que o valor não é suficiente para repor a perda estimada de arrecadação, que poderia ultraar os R$ 74 milhões.