LOC.: A entrevista desta semana do brasil61.noticiasdoacre.com é com o presidente da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral e Mineração (ABPM), Luiz Azevedo. O geólogo fala sobre a polêmica discussão em torno do projeto que pretende liberar a mineração em terras indígenas no Brasil. A proposta, de autoria do Executivo, ganhou os holofotes após os problemas de importação do potássio, ocasionados pela guerra entre Rússia e Ucrânia.
Toda essa questão abriu discussão sobre a urgência de explorarmos as jazidas do minério na Amazônia, visando uma menor dependência da importação. E de que, para isso, seria necessário minerar em terras indígenas. Mas, segundo estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais, apenas 11% de quase 14 milhões de hectares íveis de extração de potássio na Amazônia estão localizados em terras indígenas. Afinal, essa reserva de minério é mesmo indispensável e essa é ou não uma questão que envolve as terras indígenas da região?
TEC. SONORA: Luiz Azevedo, presidente da ABPM
“Esse local é uma fonte que talvez o Brasil não possa abrir mão de explorar. Também é fato que esses locais não estão dentro das reservas indígenas. Pode ser que reservas indígenas contenham potássio, mas esses locais que nós estamos falando estão no entorno das terras indígenas. E o grande impedimento do desenvolvimento dessas jazidas é a falta de oitiva dos povos indígenas. Por quê? Numa resolução Conama, a gente criou as tais zonas de amortecimento. E essas zonas, para que elas sejam pesquisadas, exploradas, elas dependem das unidades gestoras, as unidades de conservação, que no caso são as reservas indígenas. O que a gente precisa é ouvir essas comunidades. Não é uma questão de minerar ou não minerar em terra indígena.”
LOC.: Então o potássio está nessas regiões que rodeiam as reservas indígenas e que recebem, também, uma certa proteção, certo? Na verdade, a discussão deveria estar focada na exploração de áreas próximas às reservas?
TEC. SONORA: Luiz Azevedo, presidente da ABPM
“A sociedade, depois, não se apercebeu que criamos uma área em torno disso. Isso é necessário? A gente defende hoje as zonas de perambulação desses indígenas, ou seja, é fora da reserva, mas são locais que eles vão também. A gente tem prova científica de que isso é realmente utilizado pelos indígenas? Então por que a gente faz esse tipo de reserva? É isso que eu questiono. Por que a gente, na verdade, não modifica esse aspecto da lei que é muito menos polêmico? Quer dizer, vamos discutir o meio termo. Não precisamos discutir a terra indígena neste momento. Vamos discutir o entorno da terra indígena. É uma discussão muito mais fácil, porque ali, de fato, não é indígena. É o entorno”.
LOC.: A população tem medo que a mineração ocupe mais espaço do que deveria? E ainda, se a discussão sobre a exploração de potássio na Amazônia se estender, o Brasil pode abrir mão dessa reserva?
TEC. SONORA: Luiz Azevedo, presidente da ABPM
“Se você juntar toda a mineração da região amazônica como um todo, que vai desde Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, até o Acre, a gente está falando de menos de 200 campos de futebol. Agora, o que isso agrega, é enorme. Em um município apenas, no Pará, foi produzido lá quase 7 bilhões em recursos. Olha o poder transformador que tem todo esse recurso mineral traduzido em produto e receita. Então tem como abrirmos mão da mineração? O mundo não tem como abrir mão da mineração. Agora, nesse momento muito importante, a gente está discutindo a nossa segurança alimentar. E para o nosso país isso tem um papel especial, porque pode ser a alavanca de volta da inflação, que vai fazer toda a nossa população sofrer. Essa questão da discussão do potássio na Amazônia ela é maior, a gente tem de colocar isso com uma lente muito maior.”
LOC.: Nós conversamos com o presidente da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral e Mineração, ABPM, Luiz Azevedo, sobre os desafios que o Brasil vai enfrentar para conseguir minerar o potássio na Amazônia, justamente por estar dentro ou próximo de reservas indígenas.
O projeto de lei que permite mineração em terras indígenas deve ser apreciado na Câmara dos Deputados apenas em abril, após ar por análise de um grupo de trabalho, como informou o presidente da Casa, Arthur Lira.
Reportagem, Luciano Marques