LOC.: Olá! Seja bem-vindo ao “Entrevistado da Semana”. Eu sou Janary Damacena e nesta edição vamos falar sobre a pandemia da Covid-19 no Brasil, as vacinas contra a doença e a expectativa de imunizar a população brasileira no ano que vem.
Quem participa desta conversa é o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto. Ele é fundador e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Também foi ex-secretário de saúde da cidade de São Paulo e atualmente é professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Universidade de São Paulo (USP). Professor Vecina, muito obrigado por nos receber.
TEC./SONORA: Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista.
“É um prazer participar desta entrevista.”
LOC.: O Governo Federal apresentou o plano preliminar de vacinação contra a Covid-19. Na sua opinião, esse é um bom plano?
TEC./SONORA: Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista.
“O que o governo fez foi olhar muito à distância do que está acontecendo e falar ‘tem vacina da Astrazenica’. E, de fato, tem vacina da Astrazenica, mas não porque o governo tenha se movimentado, foi porque a Fiocruz se movimentou. A vacina tem um compromisso de entrega de acordo com aquilo que a Fiocruz pactuou com o laboratório.”
LOC.: O governo prevê iniciar a imunização em março, com a distribuição de 4 milhões de vacinas, em quatro fases de campanha, em 2021. Esse tempo é suficiente para liberação das vacinas por parte da Anvisa?
TEC./SONORA: Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista.
“Nós dependemos das entregas das indústrias que estão realizando os testes. Como a Anvisa está analisando concomitantemente (e não só a Anvisa, mas todas as agências do mundo) eu acredito que é tempo suficiente sim. O problema é que a Astrazenica deve uma explicação ao mundo sobre como uma dose de repente vira meia dose em um protocolo rigoroso de pesquisa?”
LOC.: O Ministério da Saúde informou que o Brasil já possui garantidas 142,9 milhões de doses da vacina contra a Covid-19. O senhor acha que esse número inicial é suficiente para garantir uma boa imunização no País?
TEC./SONORA: Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista.
“É óbvio que não. Falta colocar nesse número aí as vacinas que, se aprovadas em fase 3, nós receberemos da China. Nós não podemos descartar a vacina chinesa. Além disso, temos as vacinas que serão produzidas pelo Instituto Butantan via transferência de tecnologia.”
LOC.: Como o senhor enxerga o quadro atual da pandemia no Brasil? Estamos vivendo uma segunda onda da doença?
TEC./SONORA: Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista.
“Não. Eu acho que é só um repique da primeira onda por causa do relaxamento social provocado pelas decisões dos governos. Nós estamos tendo só um recrudescimento de primeira onda, não tem nada de segunda onda.”
LOC.: O senhor acredita que ainda é importante o cidadão manter as medidas sanitárias como uso de máscara, higiene das mãos e uso de álcool em gel, além do distanciamento social?
TEC./SONORA: Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista.
“Sim e não só isso. Temos que fechar uma parte dos estabelecimentos que erroneamente foram abertos. Não pode funcionar um restaurante que não tenha um salão aberto, com circulação de ar. Não pode funcionar um ambiente qualquer que só tenha ar-condicionado. Quem não tiver condição de circulação de ar que permita a dispersão de aerossóis não pode ficar aberto. As academias do jeito que funcionam fechadas e com ar-condicionado, não podem ficar abertas. Esses ambientes disseminam aerossóis e disseminam doenças.”
LOC.: Para encerrar, o senhor tem algum alerta a fazer sobre as festas de fim de ano?
TEC./SONORA: Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista.
“Quem quiser festejar o natal de 2021 não deve festejar o natal de 2020. Eu acho que estamos cansados, então não estou pedindo para reproduzirmos o isolamento social ou o lockdown, não, mas vamos ser civilizados! Não vamos fazer eventos em que muitas pessoas se misturem. Eventos em locais fechados onde você não tem a capacidade de dispersão de gotículas que nós emitimos quando falamos, tossimos ou espirramos. Vamos usar sempre a máscara quando estivermos nesses ambientes. Vamos dar a nossa contribuição para um controle melhor dessa pandemia enquanto não chega a vacina a toda a população.”
LOC.: Essa conversa teve participação do médico sanitarista, Gonzalo Vecina Neto, que atualmente é professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Universidade de São Paulo (USP). O Entrevistado da Semana fica por aqui e até a semana que vem.