LOC.: O Norte do país apresentou um aumento de 2,67% no índice de homicídio doloso de janeiro a outubro do ano ado, em comparação com 2022, sendo a única região que não registrou queda. A taxa por 100 mil habitantes é a segunda maior do Brasil — 21,69, perdendo apenas para o Nordeste, onde chegou a 23,40, de acordo com do Ministério da Justiça e Segurança Pública. O estado do Pará é disparado o mais violento, com 2.016 mortes do tipo registradas, à frente do Amazonas, com 1.030.
De acordo com análise de especialistas da área da segurança pública, a região vive uma crescente na violência, principalmente nos últimos quatro anos, mas sempre foi berço para diversos crimes. Diferente de todas as outras regiões do país, o Norte é marcado por intensos conflitos, de exploração, grilagem de terras e contrabando.
O professor da Universidade do Estado do Pará e pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Aiala Colares, explica a dinâmica que atinge toda a região.
TEC./SONORA: Aiala Colares - professor e pesquisador 1
“Hoje a relação que se estabelece do narcotráfico com as facções da região vem ganhando uma outra dimensão, que é a relação disso com a grilagem de terras, com processo de exploração do ouro em terras indígenas. E aí claro que acaba tendo uma característica muito diferente em relação a outras regiões. Eu diria que essa é a diferença, essa conexão da atividade criminal do narcotráfico com outras atividades ilícitas, mais ligadas aos crimes ambientais”.
LOC.: A pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Maria Paula dos Santos, diz que o estado brasileiro nunca fez uma mediação dos conflitos existentes, que ao longo das últimas cinco décadas foram aumentando cada vez mais.
TEC./SONORA: Maria Paula dos Santos - pesquisadora Ipea
“Dificilmente você tem o controle de quem é dono do que em termos fundiários. Com essa coisa de aberturas de estradas que começa com a Transamazônica, todas essas grandes estradas são vetores desse tipo de ocupação. Você abre uma estrada e em torno dela começam a surgir desmatamento, venda irregular e grilagem de terra”
LOC.: Sobre os altos índices de homicídio no estado do Pará, Colares aponta alguns fatores mais marcantes, como as disputas nos municípios de Parauapebas e Marabás, questões fundiárias, além do fato de que muitas áreas do estado são federais desde a década de 1970.
TEC./SONORA: Aiala Colares - professor e pesquisador 2
“São áreas que deveriam ser jurisprudência da União. O estado do Pará, através dos seus mecanismos de segurança pública, tem áreas que só o Ibama pode entrar, Polícia Federal, Forças Armadas. Quando você avalia o problema, tem um corpo técnico muito limitado. Isso acaba sendo um fator que dificulta que tenhamos uma política efetiva muito mais presente no combate a violência no estado”.
LOC.: Em toda a região Norte, em 2023 foram apreendidos 23.876,59 kg de maconha — um aumento de 9,87% — e 15.416,88 kg de cocaína, 26% a mais que no ano anterior.
Reportagem, Yumi Kuwano