LOC.: Além do número insuficiente de respiradores e leitos, hospitais pelo país também enfrentam outra dificuldade: a falta de pré-anestésicos, anestésicos, sedativos e relaxantes musculares usados em pacientes com sintomas graves da covid-19 que precisam ser entubados. Um levantamento do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) mostra que em 26 das 27 unidades da federação há falta ou estoque limitado desses medicamentos. Somente a Secretaria de Saúde de Alagoas relatou haver bom estoque de todos os 22 medicamentos pesquisados.
Segundo o consultor de Assistência Farmacêutica do Conass, Heber Dobis Bernarde, o problema começou a se intensificar em maio e o aumento da demanda pelas drogas resultou na escassez no mercado.
TEC/SONORA: Heber Dobis Bernarde, consultor de Assistência Farmacêutica do Conass
“Não é falta de recursos financeiros. As secretarias estão preparadas para comprar, tem intenção de comprar, porém há alguns problemas apontados pelas secretarias. Dentre eles, o fracasso e licitações desertas, a falta dos produtos no mercados e a alta dos valores.”
LOC.: De acordo com o Conass, 20 das 27 Secretarias Estaduais de Saúde estão habilitadas para fazer a compra direta dos medicamentos e todas tentaram comprar nos últimos meses, algumas mais de uma vez. No total, 18 processos de compra abertos estão com atraso na entrega. Sete ainda estão em andamento. Outros 13 processos de compra fracassaram por nenhuma empresa ter se apresentado como fornecedora.
O medicamento que mais está em falta é o Bensilato de Cisatracúrio, um bloqueador neuromuscular que evita que o paciente se mexa durante o processo de intubação. Sem esse e outros remédios, esse processo se torna, muitas vezes, inviável, como explica o presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal, Gutemberg Fialho.
TEC/SONORA: Gutemberg Fialho, presidente do sindicato dos médicos do Distrito Federal
“A falta dessa medicação faz com que a intubação seja um procedimento doloroso e que estimule reflexos no paciente, como vômito, aspirações que podem levar a pneumonia. Isso deixa o paciente agitado e ele pode fazer a extubação, que é retirar o tubo, ficando sem respiração e tendo um grave risco de óbito.”
LOC.: Depois que o Conass levou a demanda ao Ministério da Saúde, a pasta anunciou a abertura de uma licitação para adquirir os medicamentos, mas não divulgou um prazo para que os remédios cheguem aos hospitais. Além disso, o governo federal mantém contato com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), que analisa quais países possuem capacidade de produção dos medicamentos, para que sejam importados pelo Brasil.
Reportagem, Daniel Marques