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Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

"Desconto no preço de veículos vai encarecer o diesel e prejudicar os pobres", afirma economista

Professor do Ibmec alerta que programa do governo será 'bancado' pelo aumento do diesel e isso vai encarecer o frete e o preço dos alimentos


A Medida Provisória publicada pelo governo federal, na última terça-feira (6), sobre o programa de incentivo à indústria automotiva e descontos nos veículos novos, é um paliativo que só terá efeito no curto prazo – porque vai encarecer o frete, gerando também inflação no preço dos alimentos. A observação é do professor Renan Silva, economista do Ibmec Brasília. 

O especialista entende que não é recomendável esse tipo de decisão por parte do governo, porque só beneficia um setor da economia e quem vai terminar pagando “a conta” são as pessoas que dependem do preço do óleo diesel. De acordo com o Ministério da Fazenda, o programa de descontos no preço dos veículos será "bancado" pelo aumento no preço do diesel em R$ 0,11 por litro, que vai acontecer a partir do próximo mês de setembro. 

“É uma medida  paliativa, que acaba privilegiando apenas um setor”, opinou Renan Silva. “Economicamente, não é muito recomendável justamente porque você tem que criar descompensações que atingem a população mais pobre, ao antecipar a oneração dos combustíveis – uma vez que o frete fica mais caro e acaba atingindo o preço dos alimentos”, explicou o especialista.

Entenda

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou que o diesel voltará a ser onerado, de maneira gradual, a partir de setembro deste ano, como forma de repor o incentivo de R$ 1,5 bilhão que serão destinados ao programa de desconto no preço de veículos novos, anunciado pelo governo.  

Dos R$ 0,35 em impostos federais que o combustível ficou isento durante o período de pandemia, R$ 0,11 serão recompostos em setembro e o restante será cobrado a partir de janeiro de 2024 (pela decisão anterior do presidente Lula, esses impostos só voltariam ao preço do diesel no ano que vem).

Com isso, a equipe econômica do governo calcula que, até o final de 2023, consiga arrecadar de volta, através do imposto sobre o diesel, os R$ 1,5 bilhão utilizados para financiar o programa de incentivo fiscal que visa baratear o preço de carros, ônibus e caminhões.

“Justificativa”

Haddad argumentou que a antecipação para setembro seria uma boa forma de levantar o dinheiro necessário para bancar o novo programa. “A recomposição gradual dos impostos é também uma forma de controlar o impacto do aumento no preço do diesel sobre a inflação e deve ajudar o Banco Central na tarefa de baixar os juros”, afiançou.

“A reoneração dos R$ 0,35 por litro do diesel estava prevista para janeiro [de 2024]. Vamos trazer R$ 0,11 para daqui a 90 dias [setembro]”, disse Haddad, durante coletiva de Imprensa concedida esta semana, ao lado de Geraldo Alckmin (PSB), atual vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento e Indústria.

Seminovos

De acordo com a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), a indústria brasileira  vende hoje 2,1 milhões de veículos novos por ano, número bem inferior aos 3,8 milhões de 2013. 

O programa lançado pelo governo almeja conseguir descontos de até R$ 8.000 para carros, ônibus e caminhões que cumprirem requisitos ambientais. O menor valor de um carro zero quilômetro vendido atualmente no mercado esta semana é de R$ 68.990,00. 

Segundo esclareceu o comerciante Jeovane Fernandes, que lida com revenda de veículos, indiretamente a ação do governo para baixar o preço dos veículos novos deve influenciar também no preço de carros usados de todas as marcas: “O consumidor precisa ficar alerta na hora de trocar seu veículo usado num novo, porque naturalmente as concessionárias vão jogar o preço do seminovo para baixo”, observou.

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LOC: O programa de descontos no preço de veículos novos, os chamados "carros populares" - anunciado esta semana pelo governo federal - vai beneficiar a indústria automotiva. Mas esse incentivo ao setor, no curto prazo, irá depois provocar inflação. A observação é do professor Renan Silva, economista do Ibmec Brasília. Ele lembra que o dinheiro colocado à disposição do programa, num total de R$ 1,5 bilhão, será recuperado pelo governo a partir do próximo mês de setembro, através do aumento do preço do óleo diesel - e isso vai provocar o encarecimento do frete, gerando também o aumento no preço dos alimentos. 

A medida foi anunciada na última terça-feira (6) pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Na ocasião, Haddad confirmou (que o programa de descontos no preço dos veículos) será bancado pelo aumento no preço do diesel em 11 centavos por litro – a partir de setembro deste ano. 

Para o professor do Ibmec Renan Silva, a decisão não é recomendável, porque vai privilegiar apenas um setor da economia, e quem vai terminar pagando “a conta” é quem depende do preço do diesel - ou seja, a população mais pobre do país. 

SONORA: Renan Silva, professor do Ibmec Brasília. 
“De fato, representa um incentivo ao setor. Agora, esses incentivos localizados de forma seletista, isso na verdade acaba criando algumas descompensações, como por exemplo a antecipação da oneração dos combustíveis - que também atinge a camada mais pobre da população, uma vez que o frete fica mais caro, por exemplo, e acaba atingindo o preço dos alimentos lá na ponta final do consumo.”


LOC: A decisão do governo federal  de incentivar a indústria automotiva ao promover um desconto de 2 a 8 mil reais no preço dos carros novos, além de outros veículos como ônibus e caminhões, foi anunciada na última terça-feira (6) pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele informou que o programa será bancado pelo reajuste dos impostos cobrados sobre o óleo diesel, a partir de setembro deste ano, como forma de repor o incentivo de R$ 1,5 bilhão que serão destinados ao programa.  

Haddad explicou que o governo só iria voltar a cobrar no ano que vem os 35 centavos de impostos federais (que o combustível ficou isento, durante a pandemia). Mas para bancar o programa de descontos no preço de carros populares, o Ministério da Fazenda decidiu adiantar a cobrança de 11 centavos a partir de setembro deste ano. Em entrevista coletiva, ele informou que o restante dos impostos sobre o óleo diesel voltará a ser cobrado a partir de janeiro de 2024.

SONORA: Fernando Haddad, ministro da Fazenda 
“Dos 35 centavos por litro previstos de reoneração do diesel para janeiro - pela Medida Provisória assinada pelo presidente Lula, em 1º de janeiro desse ano - nós vamos trazer 11 centavos para daqui a 90 dias, que é a noventena. E isso vai colaborar para tirar pressão inflacionária de 2024, o que é bom para a autoridade monetária, que tem horizonte de tempo de planejamento mais longo”


LOC: Atualmente, o menor valor de um carro zero quilômetro vendido no mercado brasileiro é de R$ 68.990,00. Comerciantes de veículos ouvidos pelo portal de notícias Brasil 61 informaram que, depois da medida lançada pelo governo, a tendência é que o preço dos carros seminovos também comece a cair.
Reportagem: José Roberto Azambuja